Tenho andado longe, não emocionalmente mas com alguma relutância em escrever. Se por um lado sinto a responsabilidade, por outro sinto que as palavras têm de me sair do coração e há dias que ele está calado, sem grande vontade de conversas. - “É hoje!”, penso várias vezes mas depois o meu cansaço fala tão mais alto, mal consigo raciocinar depois das 21horas que é normalmente quando o meu biorritmo desacelera. As minhas contraturas musculares não me largam, dói-me todo o meu omoplata direito, apanha-me o braço e o pescoço. Raramente tenho ido à cama, fico pelo sofá mesmo . Deixo-me dormir no teu colo e assim que te dá o sono e despedes-te dizendo que vais para cama, respondo-te ensonada: -“Já lá vou!” . Na verdade são muito raras as vezes que cumpro com a minha palavra.
Os meus dias têm ganho ritmo e em sintonia está também a minha vontade de fazer coisas. Sinto que coloquei o pé no acelerador e tenho um pavor imenso de desacelerar. Tenho apostado na minha formação enquanto atriz e apresentadora ( e sim não vou ter complexos em dizer que são duas áreas que me completam, vamos parar com os estigmas que um ator não pode ser apresentador e vice-versa) e tenho voltado aos poucos ao trabalho … O Universo colocou-me um projecto em mãos de que estou a adorar fazer parte: “Jardins Proibidos". Tenho conhecido pessoas fantásticas, aprendido imenso e sobretudo sorrido bastante.
A minha mente conseguiu encontrar alguma estabilidade para dar lugar à criatividade , tenho magicado projetos … e ainda há dias foram-me colocadas à frente, assim como por coincidência, duas pessoas à altura de me ajudar, de me dar a força e confiança de que estou a precisar . Sim, bem sabes que o meu emocional está todo trocadinho, inseguranças atrás de inseguranças… meu DEUS, tenho gasto horas em psicóloga só para rever as sequelas que andam para aqui por dentro. Não sei para onde foi a minha determinação, força e segurança …. parece que desapareceram e agora tenho de andar a escarafunchar bem cá dentro do meu “eu”.
Regressei às consultas com a minha psicóloga na semana passada… tive 3 semanas sem lá ir. Digamos que tive uma desavença de ideias, custou-me ouvir algumas coisas mas regressei , não só porque a dra. ligou-me a querer saber o porquê da minha ausência, como no fundo, eu sabia perfeitamente que o que ela tinha dito e que me tinha magoado, era bem verdade. Tenho de aceitar e assumir as mudanças que esta doença provocou na nossa relação. Era ingenuidade pensar que nada seria abalado.
Sempre me orgulhei da perfeição do nosso amor, sempre achei que o jogo de dar e receber iria perdurar para sempre, que me irias proteger sempre que estivesse em apuros, dar a confiança que tantas vezes preciso para agir … mas hoje deparo-me com uma realidade diferente. Concentras em ti todas as energias para a tua sobrevivência ( e jamais condenarei isso) mas vou ser-te honesta, sinto tanta falta de receber. Sinto a falta de um simples “ como é que foi o teu dia?”, ou de um “ precisas de alguma coisa?” …. enfim, eu compreendo esta nova realidade… sem ressentimentos , sem angústias , apenas com um sorriso nos lábios e muito amor, aquele que tenho por ti. Orgulho-me tanto da tua força!!!
Tenho de te pedir desculpas porque a paciência por vezes se esgota, bem sei que a tua também mas mesmo assim conseguimos o prodígio de passar à frente sem alaridos, embora na sexta-feira tenha sido impossível … bem sabes o meu esforço de erradicar os refrigerantes da nossa vida e tiras-me completamente do sério quando vamos jantar ou almoçar fora e pura e simplesmente fazes ouvidos de marcador a tudo o que te explico. Foi mais forte do que eu , chorei à tua frente como forma de protesto, como se precisasse desabafar , como se aquelas lágrimas já tivessem no meu coração há algum tempo e no fim de contas só precisassem de sair. Desculpa por isso mas os meus nervos estão à flor da pele.
Custa-me a sensação de ser sempre a“má da fita”, que tenha de fazer o papel de mãe quando no fundo só quero reivindicar o meu papel de mulher, de esposa e namorada. É duro, muito mesmo… sobretudo quando aqueles que nos rodeiam pouco apoiam e ainda fazem a questão de se dirigirem a mim de uma forma quase bipolar. “ Andas metida em cursos e formações e depois dizes que andas cansada”, ou “ Não podes esquecer que tens o Paulo , não podes descuidar do seu almoço e do seu jantar “ ou ainda “ Ele está deprimido, tens de o tentar estimular, dar-lhe motivação”… Poucos entendem que eu própria estou a tentar recompôr-me, não sou capaz desse milagre. Desculpem lá! Quando estava deprimida todos me diziam “ Tens de recuperar, pensar mais em ti… não te podes deixar ir abaixo, tens uma vida”, agora quando me vêem mais optimista a reação é: “Calma lá, vê lá se não te esqueces das tuas responsabilidades". Que merda de gente bipolar…. de facto tentar ser perfeito é o maior perigo que existe, acham todos que vais sempre manter o nível , assim que errares, falhares ou simplesmente pensares mais em ti, vai haver alguém logo a apontar o dedo. Que se lixem todos.!!
Alguém que me pergunte: “ O Paulo precisa de alguma coisa?” , “Como estás fazer com as centenas de euros que tens dado todos os meses para a medicação e tratamento do Paulo? “, Alguém se preocupa? Não! Então , o melhor é fazerem o que sempre fizeram …. fingir que não existimos.
Ninguém passa impune à jincana emocional que esta p*** de doença provoca … estou cansada, estoirada emocionalmente e estou a fazer de tudo para me concentrar em tudo o que de bom nos tem acontecido , aprender a dançar à chuva porque a tempestade não tem data para terminar, só não exijam de mim a perfeição… não sou perfeita, não tenho pretensões de ser e ainda vou falhar muito.
Hoje para variar vou dormir na nossa cama... as minhas costas precisam de um colchão e o meu coração do teu cheirinho.
Amo-te com todas as minhas forças meu príncipe , nunca te esqueças .)